São Paulo, 2015 – Mais de 200 escolas públicas foram ocupadas por estudantes no estado de São Paulo. Eles protestavam contra a proposta de reorganização do ensino que pretendia fechar 92 escolas e transferir mais de 300 mil alunos.
Represados pelas grades, muros cinzas, baixa qualidade das aulas e pouca estrutura, os estudantes trouxeram para si o protagonismo dentro das escolas.
Os pátios foram tomadas por outro modelo de aprender e ensinar e outra relação com o bairro e a comunidade: arte; oficinas; debates sobre gênero, política, universidade e democracia; aulas em círculo; autogestão; limpeza e cozinha coletiva.
Se há décadas o ensino público sofre com o sucateamento, a desvalorização dos professores e estudantes, é possível afirmar que 2015 foi um ano histórico para o país. Além da luta contra a proposta de reorganização, o movimento secundarista foi também um grito por outra educação.
Mas como manter vivo o espírito dessas ocupações? Como tornar o protagonismo estudantil parte da educação pública brasileira?
Transformações para o infinito
Pensando em reviver a importância das ocupações de 2015, a produtora cultural Marina Paes criou o projeto Transfinitos, um dos contemplados no Circuito LABxS (Lab Santista).
Nos dias 30 e 31 de março, uma série de coletivos e artistas da baixada santista realizaram uma ocupação artística na E.E Cleóbulo Amazonas em Santos. Eles realizaram uma série de apresentações, oficinas e rodas de conversa com os estudantes.


No mesmo dia também aconteceu um grupo de discussão sobre feminismo
“Foram desenvolvidas por artistas e coletivos da região que se doaram para esse momento de troca. Estamos aqui para falar e refletir novamente sobre o sentido de ocupar uma escola”, conta Marina Paes.
“Não estamos trazendo o lado romântico, mas o sim a luta. Da potência do encontro que é gerado em um espaço que permite novos contatos”, diz a produtora.

Marina também lembra que é normal a falta de interesse de alguns estudantes no princípio das atividades. Ela procurou ficar atenta e conversar com eles. “A princípio o estudante pode não estar interessado. Mas precisamos ouvir qual é o interesse deles. Teve estudante que não queria fazer nada e voltou com uma flauta para casa”, conta.
Para ela, o mais interessante é perceber que a fala de um estudante passa a reverberar nos outros. e esse é o espírito do Transfinitos: “algo que vai tomar corpo e ficar contínuo. Tenho certeza que em breve vai gerar movimentos potentes”, concluí Marina Paes.



As músicas ficaram lindas e falavam sobre a realidade dos jovens: luta por educação, preconceito, cotidiano de um jovem suburbano, abandono e muito mais.
No final, todo mundo cantou junto em uma só voz.
Debate e protagonismo
Para a estudante Isabela, 18, do primeiro ano, que é Portuguesa e vive há 6 meses no Brasil, um dia de atividades como o Transfinitos é muito importante porque teve rodas de conversa sobre as ocupações e o feminismo.
“É preciso educar a sociedade sobre assuntos que são delicados. É necessário termos uma voz e poder falar. E fazermos alguma coisa em relação ao que é nosso por direito e não nos é dado”, disse a estudante.
Regina, 18, do segundo ano do Ensino Médio também aprovou a atividade. “É bem diferente. É um dia que dá para interagir mais e aprender coisas novas. Também dá liberdade para o aluno se impor. Achei interessante”, disse.


Quebrando a rotina
Para o professor de matemática Odirlan Bispo, 22, as atividades trouxeram uma vivência que que já fazem parte da vida dos estudantes, mas não são incentivadas. “Eles podem conhecer o rap, mas será que já tinham escrito um? O debate sobre a ocupação também foi importante, já que muitos nunca haviam conversado sobre o tema”, conta.
“Ajuda bastante. O estudante pode sair do maramo de ficar sempre na sala de aula. Aquela coisa de giz, lousa e caderno. Fora da classe você gera a percepção de outro mundo. Teve união e confraternização”, concluí o professor.







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